segunda-feira, 26 de novembro de 2007

O café nosso de cada dia.

Segunda-feira sem café não dá! Nem terça, nem quarta, nem quinta, não, nem de sexta a domingo. Quente, logo cedo, como uma vitamina. Puro, saboroso, com suas notas inconfundíveis, depois do café e do jantar. Oh Café, que grande descoberta, oh Senhor!
O café provém do fruto de um arbusto, ou árvore, perene, que abunda nas regiões tropicais e subtropicais de todo o mundo. As árvores produzem delicados cachos de flores com aroma a jasmim e frutos conhecidos como bagas. Dentro de cada baga, protegidos pela polpa e pergaminho, estão dois grãos de café. Uma vez que são precisas aproximadamente quatro mil bagas para produzir meio quilo de café torrado, poucas coisas exigem tanto esforço em termo de esforço humano. E isso já diz tudo. Imaginem a quantidade de grãos para uma xícara, não é a toa que é tão bom!
Diversas são as teorias históricas (muitos mitos e lendas também) sobre a origem do café, não sendo possível afirmar com certeza como e quando a planta foi descoberta. Uma lenda fala-nos do dervixe Omar, que, exilado da sua cidade natal, Mocha, habitava uma caverna no deserto. Certo dia, Omar, conhecido pela sua capacidade de curar os doentes pela oração, viu uma ave de plumagem maravilhosa numa árvore, entoando uma canção requintadamente harmoniosa. Quando tentou alcançar a ave, encontrou apenas flores e frutos no seu lugar. Encheu o cesto com estes e regressou à gruta, decidido a cozer umas parcas ervas para o jantar. No entanto, em vez disso, cozeu os frutos, obtendo uma saborosa e perfumada bebida castanha. Foi então que pacientes de Mocha acorriam à gruta em busca de conselhos médicos, acabando por também receber a bebida, tendo ficados todos curados (lembre-se, é uma lenda!). Quando as notícias da cura milagrosa chegaram a Mocha, Omar foi convidado a regressar, triunfalmente, tendo depois sido declarado santo padroeiro da cidade.
Impulsionado pelo conselho de minha companheira, venho compartilhar o meu café e o meu gosto pelo café. Uma viagem não fica completa sem experimentar o café da cidade visitada. Uma visita não fica completa sem aquecer o papo com o café da casa visitada. Na verdade, café com companhia é ótimo, mas ele por si só já nos acompanha. Ao longo dos textos noturnos ou dos e-mails da madrugada-quase-nascer do sol, ali também participa o café, fiel e preciso.
Eu tenho diversas teorias sobre a forma como gosto que seja feito o meu café, escutando, com atenção, os conselhos antigos de não deixar a água ferver por completo (desligando-a antes de atingir 100⁰C), ou acerca da dedicada atenção para fazer um expresso italiano utilizando uma Cafeteira Moka. Aliás, será assunto de futuro encontro – não necessariamente o próximo – descrever a forma como aprendi a fazer um café italiano. É a delicadeza que toma a frente do metal ríspido e das formas octagonais daquela “chalerinha metálica”, conhecida antiga das mammas e grandmammas sicilianas...
Eu comecei a tomar café tarde, somente no fim da Faculdade. Mas foi como ler um (bom) livro já lido, ao experimentar com cuidado a bebida quente, fui sentindo a memória esquentar e a partir desse momento, não me desliguei mais (nos dois sentidos). Avancei do açúcar ao adoçante (sim, confesso que também tenho fragilidades), mas consegui alcançar o pure black este ano.
Foi um café colombiano (Caffe Medellin Supremo – Origem: Bogotá) que me obrigou a deixar as gotas mortíferas do aspartame de lado.... não se adoça um café colombiano, de jeito nenhum! E aquele sabor, de duração impressionante, permanece além do momento primeiro... um café daquele satisfaz o resto da noite. Cotado como um dos melhores grãos de todo o mundo, o café colombiano (não propriamente o da Companhia dell’ Arabica) é algo que eu recomendo. Nada de exageros, beber esse café todo dia é purismo em demasia, presentei-se algumas vezes no mês ou, para os cafeteiros de plantão, algumas na semana.
Aqui no Brasil existem também grãos de extrema qualidade e perfume, mas para aqueles que buscam qualidade no sabor por valores mais acessíveis ao bolso do consumidor brasileiro (café importado ainda é muito caro, por isso só algumas vez por semana – entendeu???), eu aconselho um deguste pelas linhas do Café do Ponto, Bravo Café e Café
Floresta. Ultimamente provei um café chamado Café Morfeu, tem um sabor achocolatado, muito agradável, sem dúvida. Mas é um carro japonês perto de um alemão, creio que conseguem compreender.
Para finalizar, mesmo não sendo a música ideal para se saborear um café (acho que isso depende do momento), sugiro que mantenham em seu acervo o álbum Coffee Lands da coleção Putumayo (que coleção incrível!), músicas especiais e diferentes, diretamente do Peru, Colombia, Uganda, Cuba, Zimbawe, Congo, Mexico e outros. Se tiverem oportunidade, dediquem um momento de silêncio ao perfume de um café recém-nascido, ao som da faixa Kothbiro (Ayub Ogada) – Salve África!
Deixo as palavras de Lord Byron dizerem o ‘até logo’ desta vez, com seu poema (era também um apaixonado por café)...
E a baga de Mocha, da Arábia pura / Em pequenas taças de porcelana veio por fim; / Taças em filigrana d’ouro, para evitar / a mão queimar, foram colocadas por baixo. / Cravo, canela e açafrão foram também fervidos / com o Café, que, penso eu, vieram estragar.

Fonte: BANKS, Mary; McFADDEN, Christine; ATKINSON, Catherine. Manual Enciclopédico do Café (The World Encyclopedia of Coffee). Editorial Estampa, Lisboa, 2000.

2 comentários:

Eugênia Pickina disse...

Querido,
teu texto tem cheiro de café e aroma de boa música, critérios seletivos para indicação dos bons cafés e sentimentos que criam, em quem lê, o desejo de continue e conte mais... Bjs, do seu amor.

Anônimo disse...

olá,Marcos!
Como sou uma apreciadora do produto em pauta,ADOREI!.Muito bom gosto na escolha do tema.As imformações são ótimas.Bjos,vou correndo tomar um cafezinho.....
Nina