sábado, 1 de março de 2008

A condição momentânea da impossibilidade


Os dados foram, de fato, lançados na quadra quântica. No último final de semana um livro caiu em minhas mãos que apenas confirmou a interligação do todo e a eminente necessidade da recontextualização (reframing). E essa “necessidade urgentíssima” deve estar presente em nossas próprias vidas.
Há poucos dias fui abocanhado por uma onda pesada de contratempos emocionais e reflexivos. Ao invés de conclusões claras e libertadores, fundi-me em pensamentos pesados e nada lucrativos (em qualquer sentido que esta palavra possa exprimir). Ou seja, pisei no mundo antigo da minha forma de pensar e isso não foi nada bom. O dia já estava nublado, mas com o campo mental DESorientado pelo meu velho eu, deparei-me com trevas e raios que partiam minhas propostas, minhas mais novas idéias em migalhas e farelos do nada... pode parecer tenebroso, mas a forma de pensar desconexa, não libertadora e aparentemente dotada de racionalidade é capaz de grande devastação. Dormi cansado, depois de muito rastejar e joguei um pedido derradeiro ao Universo antes de dormir, resto da esperança latente que acredito vivo dentro de cada um nós.
Não se preocupem. A força cósmica é boa de mais para nós todos e, por essa mesma bondade, acordei bem e tudo não passou de um dia não muito bom. Suficiente para refletir sobre a minha forma de pensar naquele período e perceber o quão urgente é preciso MUDAR O PENSAMENTO. E não só o pensamento puro e simples, mas a própria FORMA de enxergar e visualizar o dentro e o fora (contexto e espaço), mas com REcontexto (aqui indico a vocês um texto de minha querida que, por sincronicidade, abordamos assunto correlato:
http://palavraterra.blogspot.com/2008/02/aletheia.html).
É com a própria recontextualização que verificamos a efemeridade do que hoje pode parecer impossível. Através do reframing podemos perceber o oculto do aparente e, assim, retirarmos da literalidade/obviedade frias o aspecto negativo das nossas vidas.
O “livro bem-vindo” informado no início desta conversa foi escrito por Nilton Bonder (o autor judeu, mas que não escreve sobre o judaísmo na sua visão clássica, pelo contrário, alinha o conhecimento à contemporaneidade e desmitifica preconceitos antigos, tornando-os aproveitáveis para quaisquer que se permitam a leitura/absorção), que aborda precisamente o reframing como ponto fundamental em qualquer situação ou área de nossas vidas.
A tarefa é sairmos da estrutura literal do pensamento para uma análise mais ampla e profunda (afastamento e aprofundamento ao mesmo tempo, contínuos, constantes, mas não lineares). A vida não é linear, é ondulatória. “Seguir um caminho tortuoso por linha reta” é a própria expressão do recontexto, da física quântica e do PARADOXO.
O oculto do aparente vem como segundo passo para transformar a racionalidade linear e cartesiana incrustada em nossos pensamentos. Mudamos os significadores para alterar os significantes em nossas vidas e, assim, alcançarmos um resultado mais propriamente próximo da realidade universal daquela situação. Se o Todo está interligado com tudo, a realidade literal não exprime com absoluta completude o real significado de uma situação. Mas, uma análise puramente destinada ao oculto não satisfaria essa mesma completude. Portanto, a interconexão é movimento inerente ao processo de REdescoberta, que deve ser aplicado logo após a própria Recontextualização. Um movimento de idas e vindas, perguntas e respostas com questionamentos, o que reflete o próprio processo de conhecimento: constante, cíclico e sempre em movimento.
Por fim, para degustarem (=refletir) durante o café que irão tomar daqui a pouquinho, retrato uma das estórias contatas pelo rabino Bonder, dignas de propagação:
“Conta-se de um incidente durante a Idade Média em que uma criança de um lugarejo foi encontrada morta. Imediatamente acusaram um judeu de ter sido o assassino e alegou-se que a vítima fora usada para a realização de rituais macabros. O homem foi preso e ficou desesperado. Sabia que era um bode expiatório e que não teria a menor chance em seu julgamento. Pediu então que trouxessem um rabino com quem pudesse conversar. E assim foi feito.
Ao rabino lamuriou-se, inconsolável pela pena de morte que o aguardava; tinha certeza que fariam tudo para executá-lo. O rabino o acalmou e disse: ‘Em nenhum momento acredite que não há solução. Quem tentará você a agir assim é o próprio Sinistro, que quer que você se entregue à idéia de que não há saída’. ‘Mas o que devo fazer?’, perguntou o homem angustiado. ‘Não desista e lhe será mostrado um caminho inimaginável’.
Chegado o dia do julgamento, o juiz, mancomunado com a conspiração para condenar o pobre homem, quis ainda assim fingir que lhe permitiria um julgamento justo e uma oportunidade para que demonstrasse sua inocência. Chamou-o e disse: ‘Já que vocês são pessoas de fé, vou deixar que o Senhor cuide desta questão: vou escrever num pedaço de papel a palavra INOCENTE e em outro CULPADO. Você escolherá um dos dois e o Senhor decidirá seu destino.
O acusado começou a suar frio, sabendo que aquilo não passava de uma encenação e que iriam condená-lo de qualquer maneira. E tal qual previra, o juiz preparou dois pedaços de papel que continham ambos a inscrição CULPADO. Normalmente se diria que as chances de nosso acusado acabam de cair 50% para rigorosamente 0%. Não havia nenhuma chance estatística de que ele viesse a retirar o papel contendo a inscrição INOCENTE, pois o mesmo não existia.
Lembrando-se das palavras do rabino, o acusado meditou por alguns instantes e, com o brilho nos olhos, avançou por sobre os papéis, escolheu um deles e imediatamente o engoliu. Todos os presentes protestaram: ‘O que você fez? Como vamos saber agora qual o destino que lhe cabia?’. Mais que prontamente, respondeu: ‘É simples. Basta olhar o que diz o outro papel e saberemos que escolhi seu contrário’". [In O segredo judaico de resolução de problemas. BONDER, Nilton. Rio de Janeiro: Imago, 1995. 10ed. p.11]

Emprestando a lição do chamado Rabino Verde, enfatizo: A impossibilidade é uma condição momentânea e, quem sabe disso, não desiste. Bom café!