quinta-feira, 23 de abril de 2009

Sobre a Era do Imediatismo

Estava lendo um artigo na revista Wired deste mês (link) e deparei-me com a expressão age of immediacy e fiquei a pensar como – muitos de nós – agimos automaticamente na busca incessante de adquirir (volumes), avançar fases (da vida, do jogo, do filme) e angariar informações.

O imediatismo proporcionado pelas maravilhas de que tem acesso à tecnologia, por exemplo, pode trazer consigo sintomas de excessos, de ansiedades e impaciência, e isso tudo sem que se perceba.

Tudo bem, informação nunca valeu tanto quanto antes, mas, o que realmente vale é informação de VERDADE, não balelas ou compilações estilo Wikipédia*, sem origem e sem confiança.

Por que ansiedade e impaciência? Ora, basta pensar nessa necessidade de se obter o mais rápido possível a informação ou o dado desejado.

O público, antes ignorante de informações pela falta de, hoje tem facilidade de acesso a um mundo vasto de detalhes e dados, mas busca respostas imediatas e objetivas (poucas linhas, poucas páginas, poucos megas) – o site Twitter, de relacionamento social, cresce absurdamente nos EUA, onde os seus usuários comentam os momentos dos seus dias em frases de até 40 caracteres, ofertando a opção de “seguidores” (followers), pessoas que ficam conectadas umas nas outras para saberem de seus comentários, ideias etc. Portanto, hoje são ignorantes pelo tipo de informação absorvida. Basta uma pesquisa rápida e pronto, já estou satisfeito sobre este remédio, esta doença e esse assunto. Posso até fazer um manual sobre determinado tópico – do qual eu não domino, mas fiz uma boa pesquisa compilada – e publicar um livro. Que tal??

A Era do Imediatismo realmente assusta. Creio que pode ser fruto do próprio movimento do consumo, pois percebe-se um liame entre os conceitos: adquirir e de forma rápida.

Eu mesmo não estou tão afastado disso. Confesso, antes ficava horas em lojas de discos procurando aqueles álbuns especiais para sair orgulhoso de ter encontrado algo que não conhecia, algo novo, especial, para degustar ao longo dos meses. Hoje, quase não encontramos lojas assim. Não estou reclamando, ao contrário de antes – quando ouvia o cd logo em seguida ao sair da loja – às vezes levo semanas, até meses, para ouvir minhas últimas aquisições, mesmo assim, tão fáceis e disponíveis em minha biblioteca digital. O mesmo se pode dizer sobre os quilos de e-mails recebidos, as toneladas de páginas descobertas pelo mundo virtual, artigos e textos que ficam para uma leitura posterior. O que está acontecendo?

Um amigo uma vez usou a expressão “vida zipada”! Cheguei a ficar assustado... mas às vezes fazemos isso mesmo. Compactamos e arquivamos. 24 horas por dia. Muitos dias sem parar. E fica tudo registrado, tudo em pequenas e grandes caixas em nosso arquivo mental, que um dia e uma hora precisarão ser filtrados e reexaminados.

Você participa da era do imediatismo?

É preciso, como sempre foi, observarmo-nos. É uma tarefa complexa a tal da auto-observação. O truque é perceber os defeitos sem excluir as qualidades, afinal, o sol se derrama de maneira igualitária sobre bons e maus, o que significa dizer que, independente do quanto ainda temos para melhorar, precisamos perceber o quanto já melhoramos. Nossa análise precisa ser justa, na lembrança de Tomás de Aquino, que dizia: justiça sem misericórdia é crueldade; a misericórdia sem justiça é dissolução.

Saudações!

 

* Minha crítica a textos dessa espécie é direcionada tão somente àqueles desprovidos de qualquer informação real, calcados no achismo e sem qualquer correlação com o verdadeiro sentido do objeto tratado. A ideia é boa, mas para ser utilizada é preciso cautela.

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá Marcos...seguindo seu pensar, me alinho a ele para dizer que, para além do imediatismo, estamos tão individualizados, hedonistas, que não nos percebemos nesse processo louco e vamos levando a vida de forma míope desperdiçando as oportunidades valiosas do auto-encontro.
Mudo dia 27...logo sairá nosso encontro/casa nova.
saudações e bom final de semana
Stella

Eugênia Pickina disse...

Adorei o texto! Ele nos alerta sobre o processo da alienação e das condutas mecanizadas, que nos furtam o cuidado da atenção. Obrigada! Bjs, querido. E.

Jossânia disse...

Adorei o texto Marcos. Sabe o que eu sinto nos seus textos? Que é alguém no timão de uma embarcação... ditando o diário de bordo... É uma sensação muito boa.. Não sei explicar... Você fala de coisas cotidianas como um observador atento. É interessante. Muito legal. abs.